Gêneros Polêmicos (03/03)

segunda-feira, 27 de julho de 2015


Por: Anne L


Atenção: Este post tratará de temas polêmicos, rejeitados pela sociedade como um todo por ofenderem a moral, os bons costumes, algumas religiões e, em alguns casos, até a lei vigente de um país. Se o assunto incomodar você de alguma forma, não leia.

Levou uma vida e meia, mas eu voltei, rs. Vamos aos últimos gêneros.

5. Canibalismo – Acho que todo mundo sabe o que é, mas vamos à definição assim mesmo (do dicionário Priberam):

ca·ni·ba·lis·mo 
(canibal + -ismo)

substantivo masculino
1. Qualidade ou hábito de pessoa ou de grupo humano que come carne humana. = ANDROFAGIA, ANTROPOFAGIA
2. [Ecologia]  Qualidade ou hábito de um animal comer carne de outro animal da mesma espécie.

Há ainda outros significados, mas os importantes para as histórias são esses.
Considero este item um dos mais palpáveis da lista, ainda mais num mundo pós-Hannibal, que popularizou tanto esse termo (por causa do apelido “Hannibal the Cannibal”) quanto “psicopatia” e que familiarizou muita gente com ele através dos livros, filmes e, recentemente, do seriado. A abordagem que fizeram neste último, aliás, é bem interessante de se analisar. O transtorno de personalidade antissocial (não, não se diz “psicopatia”) do personagem-título faz com que ele enxergue as pessoas não como seres humanos exatamente, mas como presas. Matar alguém e arrancar seus pulmões porque surgiu a vontade de cozinhar um prato com esses órgãos não é muito diferente de ir a um açougue e comprar a carne de algum animal.
Particularmente, gosto dessa naturalidade como ele trata o ato, como se não fosse nada de mais. Hannibal passa horas criando os pratos mais refinados e elaborados com os frutos de seus crimes e diverte-se servindo-os para seus amigos e colegas. Ele tem consciência do que é certo e do que é errado, porém age de acordo com seus desejos. Como muitos serial killers, é um personagem tão complexo e profundo que eu poderia passar horas falando sobre ele, mas ainda temos 3 gêneros pela frente, então, paro com “Hannibal” por aqui.
Outra faceta do canibalismo vem com os costumes de algumas tribos, por exemplo, nas quais esse ato ocorria como forma de se absorver as virtudes dos mortos. Às vezes, a pessoa pedia em vida que sua carne fosse devorada por alguém da tribo, uma honra sem tamanho. Ao ingerir parte de outro membro da tribo, você poderia ganhar a força dele, a inteligência, a virilidade. É uma perspectiva interessante para usar em uma história, além de fugir daquela coisa de serial killer que, especialmente nos últimos 10 anos, tem sido recorrente na mídia. Não me lembro de já ter visto muitas assim no Nyah!.
Um terceiro caso é o do canibalismo motivado pela sobrevivência. Por exemplo: se um avião cair em uma região muito fria e longe da civilização, deixando como única opção de sustento comer a carne das pessoas que já morreram (ou que ainda estão vivas, se você quiser trabalhar com a questão da loucura e do instinto de sobrevivência, que levam alguém “bom” e “comum” a cometer um assassinato por conta das circunstâncias).
Existem muitas possibilidades. O que importa é o autor estar disposto a pesquisar, construir e desenvolver seus personagens de modo que, caso ele venha a praticar o canibalismo, fique plausível. Para quem quiser ler um pouco mais sobre os serial killers que faziam isso (esse tipo de personagem é um dos mais difíceis de fazer, na minha opinião), no final do post, tem o link de um site de que eu gosto bastante.

6. BDSM – É um acrônimo para “bondage e disciplina, dominação e submissão, sadismo e masoquismo”. Não tem nada a ver com violência doméstica e/ou estupro, gente, tirem isso da cabeça. Também não considero “50 Tons de Cinza” uma boa fonte de informação sobre o assunto (ou sobre qualquer coisa na vida, mas enfim), então, não usarei a trilogia de base. Apesar dos pesares, foi ela que popularizou BDSM nos últimos tempos, portanto, pelo menos, darei esse crédito à autora.
A chave para se trabalhar com esse gênero é pensar que tudo o que ocorre entre os praticantes é consensual. É preciso certo grau de confiança para você aceitar que seu parceiro amarre alguma parte do seu corpo, por exemplo (bondage), sabendo que ele não vai machucá-lo e que, no fim das contas, tudo o que fizerem será para o prazer de ambos. E essa confiança deve ser mútua.
É nessa parte que vejo muitas fics falhando, “ampliando” as regras dessa prática ou mesmo ignorando-as totalmente para dar um tom mais sexy ou mais pessoal à história. Porque não tem nada mais sexy que alguém insistindo em fazer algo com você apesar dos seus protestos para a pessoa parar, certo? Errado. Tudo errado. Erradíssimo. Muito cuidado aqui para não transformar sua história linda com BDSM em um caso estranho de romantização de estupro e violência doméstica. Eu não diria que a linha entre as duas partes é tênue, mas já vi que muitas pessoas são incapazes de ver qualquer linha quando o assunto é fic. Vocês já estão cansados de saber, porém, que o que pode diferenciar seu texto lindo de uma representação pavorosa da comunidade BDSM é a pesquisa. Basta ler relatos, ver como funciona, descobrir até mesmo as definições de cada área certinho, e você vai se sair bem.

7. Necrofilia e Zoofilia – Para começar, as definições:

ne·cro·fi·li·a 
(necro- + -filia)

substantivo feminino
[Psicopatologia]  Perversão sexual que procura a sua satisfação nos cadáveres.

zo·o·fi·li·a 
(zoo- + -filia)

substantivo feminino
1. Gosto de animais.
2. Qualidade de quem é zoófilo.


“Ai, Anne, que horrorosa você, colocou os dois juntos porque são a mesma coisa?!” Não, nada disso. Só ler as definições para ver que não são a mesma coisa. A razão para eu falar de ambos ao mesmo tempo é que, o “ato”, propriamente dito, se dá de maneira similar: através do estupro. Animais não podem se defender de um ataque desses (alguns até podem, mas acho improvável que o praticante procure um leão para fazer isso ou coisa assim), muito menos cadáveres (a não ser que sua fic tenha uma pegada de fantasia e o morto vá se vingar depois ou algo do tipo).
Acho a parte mais tensa dos gêneros polêmicos, porque me parecem os mais difíceis de se dobrar para algo que o leitor possa considerar legal ou mesmo interessante. Envolve muito desenvolvimento emocional e psicológico dos personagens e um esforço para que, ainda que errada, a atitude deles seja convincente. Às vezes, o foco pode ser a luta contra essas vontades, como a vida da pessoa é afetada por isso, seus relacionamentos, seu emprego, etc. Talvez ela não entenda por que se sente assim ou o contrário, entende, sabe que é errado e não consegue evitar. Dá para escrever uma long inteira só com base nisso. Porém, nada o impede, é claro, de criar um personagem que simplesmente tenha uma tara por cadáveres ou animais e que procure satisfazer os próprios desejos sem tratar essas parafilias com muita profundidade. Depende da proposta da história.


O objetivo do post, naturalmente, não foi escrever um artigo acadêmico sobre cada gênero (o que eu pensei que fosse óbvio, porém, alguns comentários me levaram a ressaltar isso aqui), mas falar um pouco sobre cada um e mostrar as definições para quem estava perdido com tanto nome estranho e confundindo shotacon com zoofilia, e assim por diante. Se vocês quiserem que a gente se aprofunde em algum, basta pedir nos comentários.
Apesar da polêmica, são todos gêneros muito legais e complexos para se usar nas histórias, podendo até servir como o diferencial delas, caso você trabalhe bem com o assunto. E essa parte eu já expliquei diversas vezes, não é? Basta fazer muita, muita, muita pesquisa e desenvolver bem o lado psicológico dos personagens.



Links: "canibalismo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/canibalismo [consultado em 20-07-2015].

Site sobre canibalismo/serial killers http://oaprendizverde.com.br/tag/canibalismo/ [consultado em 20-07-2015]


"necrofilia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/necrofilia [consultado em 20-07-2015].

"zoofilia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/zoofilia [consultado em 20-07-2015].

Entrevista com a moderadora Kaline Bogard, que é psicóloga.




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Resenha: A Luz de Cada Mundo



Por: SayakaHarume
Perfil: https://fanfiction.com.br/u/35539/

Então, gente! Aqui venho em nome da Liga dos Betas apresentar uma resenha sobre um livro nacional de um autor iniciante. Farei meu melhor para não apresentar spoilers e não estragar a surpresa de ninguém quando forem conferir essa obra.

Título: A Luz de Cada Mundo
Autor: Rennan Andrade
Editora: Autopublicação
Número de Páginas: 391
ISBN: -

Sinopse: O livro conta a história de Ryze Hope, um garoto de 16 anos sem muitas expectativas que logo descobre ser dono do dom da magia. No entanto, seus poderes só funcionam quando tem seu colar (que usa desde o nascimento) pendurado no pescoço, e também quando está junto a Chloe Lights, uma garota extremamente patricinha.
Juntos, eles vão atrás de seu passado e descobrem serem os escolhidos para continuar uma tradição que já dura séculos, e para isso eles precisarão viajar por mundos desconhecidos, matando os representantes do imperador da magia negra, Ronan, e restaurando a fé dos mundos, assim como dos seus representantes da luz.

Resenha: A Luz de Cada Mundo acompanha a história de Ryze Hope e Chloe Lights. Chloe é uma estudante transferida e, quando os dois se conhecem, rapidamente percebem que ambos possuem pingentes que começam a brilhar quando estão juntos. Logo descobrem outras coincidências, como terem nascido no mesmo dia, no mesmo hospital, e pelas mãos do mesmo médico.
Com um pouco de investigação, logo descobrem que esse médico, Doutor Buddy K. Holmes, é o guardião mágico dos dois, e que ambos tinham herdado os poderes de uma poderosa maga chamada Maya e que eles tinham como missão derrotar o maligno Rei Ronan, que reencarna em um mortal a cada mil anos. Esse é o pontapé da história, onde eles viajam por vários mundos para combater a magia negra enquanto correm contra o tempo.
Quem gosta de jogos de RPG ou MMORPG vai notar semelhanças de como a história se desenvolve, e isso, para mim, foi um ponto positivo, já que é esse desenvolvimento que me faz gostar tanto de jogos.
Sobre os protagonistas: Essa é uma opinião pessoal e possivelmente exagerada, porque o Ryze tem motivo para ser do jeito que é, e ele compensa no decorrer do livro, então, quando eu coloco na balança, minha antipatia por ele é injustificada. Porém, com a Chloe foi amor à primeira vista. Eles fazem uma boa dupla, ela sendo maluquinha do jeito que é e ele com sua visão um pouco pessimista do mundo.
É um ótimo enredo, e embora demore um pouco para dar aquela vontade louca de começar a ler sem parar, vale a pena, mesmo ficando um pouco arrastado em certos pontos. O mundo e regras são bem construídas e a variedade de personagens que aparecem é grande e o leitor vai se apegar a vários.
Um ponto negativo que devo apontar é que simplesmente não houve treinamento. Assim que Ryze e Chloe descobrem que têm esses poderes, eles já partem para a missão. Senti falta de um momento para eles realmente refletirem sob o peso da missão que estavam prestes a aceitar.
Existem alguns erros de pontuação de diálogos, mas nada que objetivamente atrapalhe a leitura.
Espero que tenham gostado da resenha e que confiram o livro quando sair!
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Transtornos Psicológicos: Psicopatia e Sociopatia

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Por: SayakaHarume

Oi, oi, gente!
Aqui estou eu mais uma vez para falar sobre Transtornos Psicológicos, e dessa vez, sobre um muito usado em fanfics policiais!
Há muito a se dizer sobre Psicopatia e/ou Sociopatia. Pra começar, clinicamente falando, as duas são a mesma coisa: Transtorno da Personalidade Antissocial. É diagnosticado com a aplicação de um teste e a comparação dos resultados com a Escala de Hare, criada pelo psicólogo Robert Hare. É composta de 20 itens de avaliação, cada um com notas de 0 a 2. Deve ser aplicada e interpretada por um profissional treinado. Nem todo psicólogo ou psiquiatra pode aplicar esse teste. O mais indicado é que seja aplicado por pessoas da área criminal ou forense.
Para não gerar mal-entendidos ou deixar muita gente aplicando esse teste de maneira errônea com os coleguinhas e com si mesmo e ficar achando que todo mundo é psicopata, eu não vou compartilhar o teste.
Segundo: os portadores desse distúrbio não são insanos. Esse transtorno em nada compromete as capacidades mentais de alguém. Eles não são loucos.
Terceiro: uma pessoa má, não necessariamente é psicopata ou sociopata. Maldade não é algo relacionado somente a psicopatia. Uma pessoa pode ser má, egoísta e cometer grandes atos de crueldade sem ter esse transtorno.


O que define o Transtorno da Personalidade Antissocial é a incapacidade de um indivíduo sentir empatia, resultando em descaso com o bem-estar do outro e sérios prejuízos aos que convivem com quem possui tal transtorno. Esse desvio de caráter costuma ir se estruturando desde a infância. Por isso, na maioria das vezes, alguns dos seus sintomas podem ser observados nesta fase e/ou na adolescência, por meio de comportamentos agressivos que, durante estes períodos, são denominados de transtornos de conduta. Não demonstram empatia, são interesseiros, egoístas e manipuladores. Conforme se tornam adultos, o transtorno tende a se cronificar e causar cada vez mais prejuízos na vida do próprio indivíduo e especialmente na de quem convive com ele.
Um mito muito comum é associar assassinos a psicopatas e sociopatas, quando apenas 1% dos psicopatas chegam realmente a matar alguém.


Sociopatia e Psicopatia são diferenciadas mais para o uso criminal. Embora ainda não seja um fato estabelecido, os pesquisadores tendem a considerar que a psicopatia é genética, enquanto que a sociopatia possui como causa não só a genética, a predisposição hereditária, mas também a influência do ambiente é fundamental para a sua eclosão. Em resumo, eu poderia dizer que psicopatia é algo que já nasce com o indivíduo, enquanto a sociopatia é algo construído.
Nessa construção, fatores decisivos são uma infância com pais ou responsáveis ausentes ou mesmo ― e na maior parte dos casos ― abusivos, infância solitária em um ambiente de pobreza e/ou hostilização na escola e outros meios. Podem ter QI (quociente de inteligência) extremamente alto ou extremamente baixo, embora sejam geralmente associados com a genialidade.
Ambas têm algumas coisas em comum:
  • Desrespeito pelas leis e normas sociais;
  • Desrespeito pelo direito dos outros;
  • Incapacidade de remorso ou culpa;
  • Tendência a exibir comportamento violento ou explosões de fúria.


Tia, quer dizer que eles são anárquicos, que nem o Coringa do Heath Ledger? Não. Uma vez eu li um artigo escrito por uma sociopata clinicamente diagnosticada como tal. Ela relatou que uma vez ela queria subir para o segundo andar do shopping, mas a escada rolante estava desligada e interditada. Ela começou a subir por ali e, quando o segurança foi repreendê-la, ela quase teve uma explosão de fúria, e relatou que fantasiou em bater a cabeça dele no corrimão. Porém, ela escolheu seguir o caminho dela. Sim, pela mesma escada. Espero que o exemplo tenha ajudado.
Exemplo esse que também mostra o que eu venho dizendo mais acima: nem todo psicopata ou sociopata chega a ser um assassino. Ela pode ter desejado que o segurança morresse, mas não fez nenhum movimento de violência. Um psicopata ou sociopata não é movido por um desejo frenético de matar. Esses são serial killers, e nem todos são psicopatas ou sociopatas. É, pois é.


A principal diferença apontada entre os dois casos é que, enquanto um se encaixa perfeitamente na sociedade, se camuflando perfeitamente, o outro, nem tanto. Embora eu tenha encontrado divergências entre qual é qual, para esse artigo vou manter os termos mais usados para cada grupo.
O psicopata é charmoso, inteligente, sempre procurando agradar e construir relações de confiança. Podem subir realmente alto em empresas apenas com o poder da lábia, sem realmente mostrar algum talento no trabalho que fazem. Podem falar habilmente de países que nunca visitaram, viagens que nunca fizeram. São mestres da falácia. São organizados e eficientes quando resolvem fazer alguma coisa. Procuram sempre cargos de poder, onde podem sentir que estão manipulando e controlando a vida de pessoas.
Um sociopata, por sua vez, pode ser bem mais emocional do que o psicopata, e tão emocional quanto uma pessoa com empatia nula pode ser. Sua principal emoção é a raiva. É impaciente, por isso não consegue subir tanto na vida como seus colegas psicopatas. Podem viver alheios à sociedade, pois são desorganizados mentalmente e incapazes de manter um relacionamento estável com qualquer um, seja família, amigos ou colegas de trabalho. Não necessariamente violentos, porém, possuem mais pré-disposição para tal.


Pessoas com esse transtorno mental constituem 6% da população mundial, em uma porcentagem otimista. É muito provável que você já tenha cruzado em algum momento da sua vida com um psicopata ou um sociopata, e você não faz a menor ideia disso. O disfarce social deles é praticamente perfeito.
Estudos sobre esses indivíduos são difíceis de serem encontrados, justamente porque só podemos contar com entrevistas com criminosos, que só nos mostram o que há de pior nesse transtorno. Porém, existem portadores desse transtorno que podem passar a vida inteira sem machucar ou causar um dano irreversível a alguém, em qualquer nível.
É também o transtorno que causa mais fascinação entre as pessoas em geral, que sempre tentam desvendar o que há por trás da mente de pessoas tão frias, distantes e perigosas. Ainda que não causem dano físico, psicopatas ou sociopatas podem fazer um grande estrago na vida social, emocional ou profissional de alguém.


Espero ter ajudado com esse pequeno artigo. Logo, logo, publicarei mais artigos sobre outros distúrbios muito usados em fanfics e originais!
Até!
Bibliografia:



Para quem vai fazer fanfics sobre crime, esse site é o mais indicado: http://oaprendizverde.com.br/2012/07/17/pra-saber-mais-sociopatas-vs-psicopatas/

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Resenha: As Mentiras de Locke Lamora

quinta-feira, 16 de julho de 2015
 

Por: Rodrigo Caetano

E aí, galera. Tudo bem? Pois é, parece que eu estou aqui novamente, dessa vez para fazer uma resenha. Vim falar de um livro bem diferente do que aqueles que o pessoal costuma falar por aqui. Espero que curtam!

Título Original: The Lies of Locke Lamora
Título Brasileiro: As Mentiras de Locke Lamora
Autor: Scott Lynch
Editora: Arqueiro
Tradução: Fernanda Abreu

Sinopse: O Espinho é uma figura lendária - um espadachim imbatível, um especialista em roubos vultosos, um fantasma que atravessa paredes. Metade da excêntrica cidade de Camorr acredita que ele seja um defensor dos pobres, enquanto o restante o considera apenas uma invencionice ridícula.
Franzino, azarado no amor e sem nenhuma habilidade com a espada, Locke Lamora é o homem por trás do fabuloso Espinho, cujas façanhas alcançaram uma fama indesejada. Ele de fato rouba dos ricos (de quem mais valeria a pena roubar?), mas os pobres não veem nem a cor do dinheiro conquistado com os golpes, que vai todo para os bolsos de Locke e de seus comparsas - os Nobres Vigaristas.
O único lar do astuto grupo é o submundo da antiquíssima Camorr, que começa a ser assolado por um misterioso assassino com poder de superar até mesmo o Espinho. Matando líderes de gangues, ele instaura uma guerra clandestina e ameaça mergulhar a cidade em um banho de sangue. Preso em uma armadilha sinistra, Locke e seus amigos terão sua lealdade e inteligência testadas ao máximo e precisarão lutar para sobreviver.

Resenha: “As Mentiras de Locke Lamora” é o primeiro livro de uma série intitulada Nobres Vigaristas. Brincando com o tempo, o autor vai ao passado e volta ao presente, enquanto nos conta a história de um menino pequeno e franzino, com uma habilidade mais do que natural para o roubo e a farsa. Órfão, pobre e sem ninguém para olhar por ele, Locke aprende a se cuidar ao mesmo tempo que ensina a todos à sua volta que as aparências, por menores que sejam, enganam.
No prólogo somos apresentados à cidade de Camorr, ambiente onde toda a narrativa acontece, mesmo que o livro demonstre que o mundo criado por Scott Lynch é muito mais vasto. Em uma cidade dividida entre a nobreza e as gangues de ruas, ficamos sabendo que há um acordo, chamado de Paz Secreta, entre os nobres e o líder das atividades criminosas da cidade. Essa paz consiste na garantia de proteção da nobreza contra os criminosos e, em contrapartida, na garantia de intervenção mínima necessária do Estado, em relação aos crimes contra o povo comum.
Locke, uma criança de cerca de 10 anos de idade, órfã, é apresentado para o Aliciador, um homem que comanda uma grande trupe de ladrões infantis, que são treinados por ele para roubar pelas ruas. O Aliciador é apenas um dos líderes de gangues que responde ao Capa da cidade, o líder dos líderes, que comanda a todas as gangues clandestinas simultaneamente e o responsável pela Paz Secreta.
Logo, porém, o Aliciador se prova incapaz de conter o talento natural de Locke para a grandeza. O menino não foi feito para pequenos roubos nos mercados da cidade. Ele foi feito para a farsa e para o golpe – para a trapaça. Depois de cometer três grandes erros no início de sua carreira na gangue do Aliciador – erros que incluem incendiar uma taberna e ameaçar erradicar a Paz Secreta e começar uma guerra civil, sem contar o maior deles – o menino é condenado à morta pelo líder de sua própria gangue.
Porém, em um último momento de piedade – mais de ganância, na realidade – o Aliciador decide ofertar o menino como uma espécie de escravo, por um preço barato, ao Padre Correntes. Um farsante que se faz passar de padre cego, mas é o líder de uma gangue chamada Nobres Vigaristas. Essa gangue, apesar de obedecer e respeitar a autoridade do Capa de Camorr, não nutre respeito pela Paz Secreta, e busca miná-la passo a passo, escondida até do submundo da cidade.
Parece interessante? Pois é, isso é apenas o prólogo.
Os Nobres Vigaristas foram fundados pelo Padre Correntes e, no passado, eram liderados por ele, que ensinou e treinou não apenas Locke, mas também os gêmeos Calo e Galdo, Jean Tannen, um menino gordo, recrutado por sua habilidade com os números e sua capacidade de força bruta, além de Sabeta, uma menina que roubou o coração de nosso protagonista, mas que permanece um mistério durante toda a narrativa.
Já no presente, após a morte de Correntes e ainda sem notícias de Sabeta, vemos uma gangue liderada por Locke Lamora e formada por seus antigos amigos, com a jovem adição do menino Pulga, aprendiz e pupilo de Locke, além de mascote do grupo.
O primeiro capítulo abre com a preparação de um golpe contra uma das famílias nobres de Camorr, os Salvara, e o autor nos leva passo a passo, indo e voltando no tempo, para a execução da primeira fase, onde Locke é apresentado como um comerciante estrangeiro precisando de investimentos, enquanto vemos como todo o encontro foi preparado e estudado pela gangue nos mínimos detalhes.
Indiscutivelmente, a abertura desse livro é bem mais animada do que a da maioria dos livros por aí.
Logo, porém, descobrimos que a autoridade do Capa Raza está sendo posta em cheque por uma figura misteriosa, quase mágica, que se autointitula Rei Cinza, e pretende derrubar o poderoso chefe das atividades clandestinas da cidade.
O Rei Cinza começa a atacar, um a um, os líderes das gangues da Cidade e, em pouco tempo, Locke se vê preso entre a farsa que mantém vivo o seu golpe contra os nobres Salvara, ao mesmo tempo em que lida com as ameaças e os planos do Rei Cinza e tenta manter em segredo as violações à Paz Secreta que vem cometendo desde que começou a roubar da nobreza.
É então que os Nobres Vigaristas se veem presos a uma guerra da qual não desejam fazer parte, e em que não podem tomar nenhum dos lados. Sem ter para onde correr, cabe ao homem por trás do fantasioso Espinho de Camorr encontrar uma solução para o problema, mesmo que lhe prejudique o bolso ou a reputação. Em pouco tempo, a única coisa que passa a importar é enfrentar a tempestade e sair com vida.
O romance em si é subdividido 4 vezes, cada uma das secções chamadas de “Livros”. Cada um desses livros é subdividido em capítulos, que, por sua vez, são subdivididos em cenas numeradas e interlúdios. E é interessante observar como o narrador se aproveita dessa subdivisão para mudar o foco da leitura, mudar o personagem foco e apresentar outras maneiras de ver as coisas, além de, nos interlúdios - últimas cenas de cada capítulo - voltar no tempo para o treinamento oferecido à trupe dos Nobres Vigaristas pelo fascinante padre farsante.
Com o jogo de idas e voltas no tempo, o autor também consegue uma tarefa difícil, mas essencial para a devida compreensão do conteúdo que o livro se propõe a trazer para o leitor. É apenas com esse jogo de ritmos e de contraposições entre o passado infantil de Locke, o passado recente das atividades dos Nobres Vigaristas e o presente atribulado, que podemos compreender a profundidade que as farsas armadas têm, e como a mentira está entranhada em cada página desse romance.
É interessante também observar as armadilhas escancaradas que o autor monta, afinal, sabemos desde o título que os personagens desse romance são mentirosos. Mais do que isso, vivem e amam a mentira. Desse modo, somos ensinados, pouco a pouco, a não acreditar em todas as palavras ditas e/ou escritas no livro.
A linguagem é muito bem trabalhada, e alguns diriam que um pouco realista demais. Eu discordo desses poucos. Pela primeira vez vejo um livro em que os personagens, amigos de infância, íntimos, falam todos os palavrões a que tem direito, pregam peças que muitos diriam desrespeitosas e, ainda assim, amam-se e são mais sinceros do que qualquer outro personagem educado e seguidor da moral e dos bons costumes.
Além disso, o mundo criado por Scott Lynch é um lugar onde as diferenças ainda são igualadas a base do punho fechado, da lâmina de uma espada ou da flecha de uma balestra. Não há escassez de sangue, assassinatos, hematomas, sem contar urina, fezes e bile. E, apesar de não ser comparado a George Martin, Scotty Lynch não tem medo de matar alguns personagens legais.
Fica então aqui o aviso: se qualquer dessas coisas lhe incomoda, esse não é um livro para você. Que pena. Você não sabe o que está perdendo.
Por fim, como nada é perfeito e como eu falo muito, apesar de não ter falado tudo que devia, é importante fazer algumas críticas e observações finais.
Em alguns pontos, senti algumas incongruências, ou, no mínimo, uma falta de informação (que pode ser aceitável, considerando que ainda faltam seis livros para o final da série). Ainda assim, alguns pontos-chave ficaram sem explicação, e isso me incomodou um pouco.
Além disso, para um livro que se baseia na farsa e na mentira, em alguns momentos importantes o autor se esquece das lições ensinadas. A falta de cuidado de alguns personagens (experientes e que se mostraram cautelosos anteriormente) teria colocado todo o enredo por água abaixo, caso as informações que serviam de base para suas decisões fossem falsas ou imprecisas.
A impressão que tive, no final, é que esse era um livro teste. Ele funciona bem como o primeiro livro de uma série de sete, mas resolve muito da sua trama principal em si mesmo, deixando-se levar no fim para encontrar o final que precisa.
Além disso, ele deixa muita coisa do mundo criado em aberto, de modo que fica difícil julgar por ele a habilidade de criação de mundo do autor. Parece-me que ele focou mais no enredo do livro em si do que em explorar o seu mundo. Isso não é algo ruim, mas me passou uma certa insegurança – compreensível, ao se considerar que ele era um escritor iniciante em 2005, quando o livro foi publicado pela primeira vez em Londres.
Fica então registrada a minha esperança de que, nos próximos livros, já como um autor bem estabelecido, Scott consiga dar cabo de uma série que não é nada menos do que promissora, e que merece todos os elogios que recebe. Alguns leitores o comparam ao primo medieval de “Onze homens e um segredo” e do “Poderoso Chefão”. Já os autores fantásticos renomados como George R. R. Martin (“Uma história original, vigorosa e arrebatadora”) e Patrick Rothfuss (“Provavelmente é um dos cinco melhores livros que eu já li na vida”) não poupam elogios.
Para finalizar, ninguém melhor que o próprio Padre Correntes para lhes dar uma ideia do nosso incrivelmente carismático:
“Algum dia, Locke Lamora, algum dia você vai fazer uma cagada tão gigantesca, tão ambiciosa, tão avassaladora, que o céu vai se acender, as luas vão girar e os próprios deuses vão fazer chover cometas de tanta alegria. Só espero ainda estar por perto para assistir”.
Eu vou estar. Aconselho que estejam também...
Até a próxima, galera!
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